segunda-feira, 25 de janeiro de 2016

O baque aconteceu no ônibus




O baque aconteceu no ônibus, quando vi o sol bater nas feições geomorfológicas do maciço da Tijuca, seu verde brilhando num estranho contentamento de ser verde e de ser morro. Antenas, cidade aos pés, nuvens descendo, como uma louca cavalaria morro abaixo, engolfando o verde contente com sua brancura fria. E o sol, sempre o sol. A singularidade de toda uma existência, de sol, de mundo, de feições geomorfológicas com mata, numa capital de 500 anos, me acertou como um martelo. Olho para o lado, desnorteado, procurando viva alma para me ajudar a conter essa explosão que ameaça destruir tudo em meu peito. As cascas do marasmo, do tédio eterno, paralisador, da ansiedade que finge em vão substituir o dinamismo da energia vital, tentam segurar a onda que cresce, tenciona os músculos querendo extravasar. Me rendo. Liberdade!, eu grito, me despindo da pele de universitário idiota acadêmico analfabeto emocional, enquanto, nu, observo a beleza do mundo naquele instante fenomenal. Tomo o corpo de assalto, com um soluço mal contido, numa revolta. É verdadeiro, é intenso. Faz sentido, e não precisa fazer sentido. É lindo, sinto vontade de chorar. Respiro com força. Choro mesmo, choro de maravilhamento. Porque não conseguiram me matar!, não conseguiram. Ainda estou ali, embaixo de tudo. Ainda pulso, ainda grito, berro. Choro mais. Que sol maravilhoso, que vida maravilhosa, plural, única, diversa, singular, construída, feita de decisões, de maravilhas diárias, de amor, de muito amor, de mais amor que consigo conter em meu peito, ou me permito admitir. Mas naquele momento eu era eu, e eu amava. Eu era eu, o mundo desabrochava, a vida pulava em cada tom do verde geomorfológico do Maciço da Tijuca, do vento que me movia, a beleza que gritava, se anunciando existindo ali o tempo todo, independente se eu tivesse ali para experimentá-la. Mas eu estava nu, era só sentido. Eu estava ali para olhar para beleza extrema da singularidade, chorando. Era vida que pulava em meu peito, executando seus passos de dança particulares, sua dança eterna. Dancei com a vida. Executei os movimentos, gargalhei, chorando ainda. Não vão me levar, canalhas!, gargalhei. Não vão me levar. Eu ainda vivo, eu ainda pulso. Não adianta seus horrores, não adianta seu tédio. Não adianta sua ansiedade, não adianta se enfeiuramento. O mundo é belo. A vida existe, assim como a singularidade. O inesperado, o plural. O desconhecido. O mundo é vasto. Desistam, eu não vou com vocês. Não apequenem. Porque eu tenho certeza. Cada vez que o martelo da vida me acertar, eu vou ter mais certeza. Eu vivo, eu existo, e a beleza também. A beleza vai me guiar para passar por esses campos minados. A beleza vai me proteger da inanição monocromática do tédio massante. Eu vivo, e a beleza é minha liberdade

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