sábado, 14 de novembro de 2009

A Princesa

A Princesa



Chora, chora. Ah, que triste. Triste penar, cara princesa. De fato. Porquê? O que fez para merecer tamanha dor? Nada. Quem te preparou para sofrer como sofre? Ninguém. Lamenta, soluça, chora. Chora. Lágrimas abundantes. Inúteis e vazias, antes a realidade cruel que é imposta a ferros. A Verdade.

O que passou, passou, dizem eles. Ó, parvos ignorantes, vestidos tão resplandecentes de sábios. Tolos, estúpidos, incapazes, em seus corações envelhecidos, entender, compreender, a dor. O sofrimento. O penar. Mas eles tentam! Ó como tentam! Lêem livros, fazem perguntas, fingem compreender, sempre em suas vestimentas. Cascas inúteis. Falam, com sua impecável oratória, seus pesados advérbios e importantes substantivos, falácias, mentiras.

“Sábios tolos, asnos com pele de conselheiros.” Pensa, desolada, Bruna, princesa ferida. Bruna, a morena de pele clara. Olhos lindos, mas tristes. Tão tristes, coitados. Vermelhos, exaustos, brilhantes de lágrimas e assolados por uma dor incompreendida por sábios tolos. Tristes. Cabelos negros, Bruna, cascateando pelos ombros pálidos, que tremem a cada soluço.

Dirige-se a Deus, religiosamente. Mas Deus não lhe dá o afago que precisa, não lhe consola a alma destroçada. Não lhe auxilia nesta hora difícil. Não há consolo, não há salvação. Não sente mais amor por Deus, por amigos, por ninguém. Ninguém. Tristeza, linda Bruna, é o que lhe resta. Princesa triste, sofrida e ingênua.

Como pode achar que iria ser assim? Como? Amaldiçoa sua mente febril. Mente de sonhadora. Mente insegura e desejosa; Mente torpe, seduzida por desejos inimagináveis havia criado situações impossíveis. Mas tão reais. Ó, Deus, tão reais. Pareciam tão próximos, tão plausíveis! Palpáveis, até. Se desvanecem num toque, num sussurro gélido.

“Ele está morto, minha princesa”. Morto. Não podia acreditar. Destino cruel e zombeteiro. Esmaga com seu martelo de ferro, a Verdade, os sonhos e esperanças. “A esperança é a última que morre” falam os conselheiros ridículos, meros livros a serem consultados, serem sem opiniões. Errados de novo. Ou será que não?

Pensamentos frios e distantes passam na bela cabeça da atormentada Bruna, das madeixas negras. Mas amenizavam a dor. O sofrimento não desaparecia. Estava escondido. Esperança? Não. Morta. Ilusão? Não. Esmagadas e destruídas. Apenas razão. Ou será que não? Subiu as longas escadarias de pedra, sem chorar mais. Sofria, triste, a princesa. Mas não chorava. Não mais. Não se importava mais.

As ameias da torre estavam vazias. Assim como o coração de Bruna e seus lindos olhos castanhos escuros e tristes. Faz frio, princesa, frio em seu corpo. Frio em sua alma. Agora vês? Agora entendes? O que te leva, a passos vacilantes, a subir no parapeito? Por qual razão olhas temerosa para a rocha sólida abaixo?

Insegura, olhou para o céu. A calma do infinito, a beleza das estrelas, o sopro do vento. E, subitamente, tudo faz sentido. Um profundo sentimento de felicidade preenche o vazio coração real, uma felicidade e um discernimento que nunca mais a abandonaram, até o final de sua vida. “Asnos fantasiados, nunca vão entender!” Resoluta, com um sorriso, Bruna pulou para sua morte.